segunda-feira, janeiro 26, 2009

EQUIVOCOS DA LEI ROUANET DE INCENTIVO A CULTURA

Imagine que o Estado brasileiro tenha dado ao Grupo Itaú, em 2007, R$ 47 milhões para que, segundo os critérios da empresa, ela destinasse esse dinheiro público para ações de marketing cultural do banco, patrocinando peças teatrais, mostras, concertos e espetáculos. Pois essa situação é real. E piora bastante. Somente em 2007, o Estado brasileiro, por meio da chamada Lei Rouanet, deu R$ 1,184 bilhões para a iniciativa privada por meio de isenções fiscais, o que corresponde, em média, a 80% do parco orçamento do Ministério da Cultura (Minc). Em 2008, a estimativa é de que a Lei tenha movimentado R$ 1,4 bilhão.
Embora as críticas ao mecanismo tenham crescido muito nos últimos anos – até mesmo em algumas matérias da imprensa corporativa –, mudanças profundas não estão no horizonte. Após a saída de Gilberto Gil do Minc, seu sucessor, Juca Ferreira, afirmou que uma reforma na Lei 8.313 (ver box)seria uma de suas primeiras iniciativas. Cumpriu a promessa. No final de novembro, o Ministério apresentou um diagnóstico da Lei, detectando distorções, estabelecendo metas até 2012, e delineando o conteúdo da reforma, que não questiona o incentivo fiscal, mas apenas estebelece novas regras para ele. A previsão é que o projeto seja submetido ao Congresso em fevereiro de 2009.
Os problemas da Lei Rouanet não acabam por aí. O relatório do Minc aponta que apenas 3% das empresas captam 50% dos recursos. A maioria dessas estão na região mais rica do país, a Sudeste, que capta 80%, sendo que Espírito Santo capta apenas 1% desse montante. A região Norte não chega a obter nem 1% do valor. Números que mostram os riscos do Estado abrir mão de ser os gestor de políticas públicas para o área cultural do país e entregá-la a empresas privadas que objetivam lucro.
“Costumo dizer que na expressão 'marketing cultural' o 'marketing' é o substantivo, 'cultural' é adjetivo”. Se eu sou um gerente financeiro ou um gerente de marketing, eu vou por dinheiro num grupo de teatro da Vila Iocuné ou no Chitãozinho e Xororó que me dá retorno garantido?”, exemplifica Moreira.
O Minc observa também que os preços da maioria dos projetos financiados tem “preços elevados e baixa democratização do acesso”, e que há “falta de percepção de que são recursos públicos”, o que permite que as empresas invistam numa imagem institucional de patrocinadores da arte e incentivadores da cultura, quando muitas vezes não estão tirando um único centavo do bolso para tocar seus projetos.

(Leia mais na edição 305 do Brasil de Fato).

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